ESQUERDA VOLVER: OS RESULTADOS DA ELEIÇÃO DE OUTUBRO DE 2016
Herbert Marcuse, no prólogo da edição da obra monumental de Karl Marx- O 18 Brumário - faz uma reflexão que gostaria de citar aqui para abrir o debate sobre o ocorrido nas eleições municipais brasileiras no último dia 02 de outubro. Fazendo uma reflexão sobre a burguesia, diz Marcuse que “na sua ascensão, a burguesia mobilizou as massas e reiteradamente as traiu e abateu. A sociedade capitalista em desenvolvimento precisa contar de modo crescente com as massas, integrá-las na normalidade econômica e política, torná-las capazes de pagar e (até certo ponto) inclusive de governar. O Estado autoritário necessita de uma base democrática de massas; o líder deve ser eleito pelo povo, e ele o é...”, como o é aqui e acolá, sempre eleito de “forma democrática”. Democrática para quem não se discute aqui, todos sabemos de antemão para quem governam.
Porém, ao governar, os eleitos, feitos, reitos e
direitos esquecem-se de uma premissa que Marx ensina no texto, quando lembra
aos eleitos
que “no segundo domingo do belo mês de
maio -ou aqui na entrada da primavera-
no quarto ano de tua eleição, acaba o teu poder! Naquele dia, a tua glória
chegará ao fim, a peça não será encenada duas vezes, e se tiveres dívidas,
trata de quitá-las em tempo hábil..”, pois a cobrança vem, desculpe o
trocadilho, a jato, na verdade, seria via cavalo.
O que os que governam esqueceram, após sua tentativa
de aceitação no clube da burguesia, que os talheres de prata são de difícil manuseio,
e que não foram eleitos para manusear talheres de prata, se embebedar com taças
de ouro e sim para derreter os talheres e retirar o ouro para construir uma
nova sociedade, uma nova sociabilidade, uma nova república, não dos “velhacos”,
das viúvas da ditadura que rapidamente se apossaram do novo governo, e sim, uma
república popular para os trabalhadores e trabalhadoras. O preço, segundo Marx,
seria claro, tão claro como os votos eletrônicos.
Uma vez que fizeram aliança com a burguesia e não
com a classe trabalhadora, ocorre o que sempre ocorreu, como explica Marx no 18
Brumário, ou seja, “desde da época de 20 de dezembro de 1848 até a
dissolução da Constituinte em maio de 1849 compreende a história do ocaso dos
burgueses republicanos. Depois de ter fundado uma República para a burguesia, escorraçado
o proletariado revolucionário do campo e calado momentaneamente a
pequena-burguesia democrata, eles próprios foram postos de lado pela massa da burguesia
que, com razão, confiscou essa República como a sua propriedade...”.
Nada diferente do que ocorreu no último dia 02 de
outubro, ou em maio, ou agosto e setembro de 2016. É preciso reler Marx, é
urgente reler O 18 Brumário de Luís Bonaparte. Mais ainda, precisamos
derrubar o que ensina Marx, ou seja, a máscara que encobre através de discursos
o verdadeiro conflito que está na raiz disso tudo, ou seja, como ele mesmo
explica “um
exame mais detido da situação e dos partidos, contudo, faz desaparecer essa
aparência superficial, que mascara a luta de classes e a fisionomia peculiar desse
período”. Ele fala do século XIX, porém, é atual e preciso para o debate sobre
os resultados da eleição de outubro de 2016.